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Vulnerabilidade justifica prioridade de indígenas: ‘Vacina ajuda a não dizimá-los’


Foto: Ascom Cabrália

Além dos profissionais da linha de frente de enfrentamento à pandemia e os idosos institucionalizados, os indígenas também são considerados grupos prioritários na vacinação contra a Covid-19. A definição é feita pelo próprio Ministério da Saúde (MS) e está prevista no Plano Nacional de Operacionalização da Vacina. Com isso, os imunizantes chegam para as secretarias estaduais de Saúde, responsáveis pela distribuição aos municípios, já com a determinação de separação de doses para esse grupo.

Acontece que essa população está mais exposta à vulnerabilidade social e o fato se agrava e potencializa em uma situação de crise sanitária. “É muito difícil de superar nesse momento de pandemia, então a vacina vai ajudar a não dizimá-los. Assim como no passado a gripe, febre amarela, cólera dizimaram várias populações, nesse momento a Covid-19 é realmente um grande risco à vida dessas populações”, analisou a professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e integrante da coordenação executiva da Rede Covida, Maria Yury Ichiharo.

O entendimento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao MS, é de que no Brasil os povos indígenas estão mais expostos à infecção pelo coronavírus, “uma vez que doenças infecciosas em grupos tendem a se espalhar rapidamente e atingir grande parte da população devido ao modo de vida coletivo”. Além disso, a pasta ainda cita “as dificuldades de implementação das medidas não farmacológicas”.

A professora da Ufba destaca que essa população normalmente já tem mais dificuldade de acesso à saúde. Na pandemia a situação se tornou ainda mais grave, já que eles acabam não tendo o mesmo acesso a testagem e atendimento médico. “Principalmente a população aldeada, isolada, já que ela tem que vir para uma assistência na cidade, e isso gera uma série de problemas”, disse.

Além da vacina, que ainda não está disponível em grande escala, as garantias que se tem para evitar o desenvolvimento da Covid-19 são medidas de prevenção, como o uso de máscara, higiene das mãos e principalmente o distanciamento social. Mas a cultura e as organizações sociais dos indígenas os tornam vulneráveis nesse sentido, explica Ichiharo.

“As condições de moradia, as organizações sociais diferentes, em que todos compartilham o mesmo espaço, não há divisão de moradia… isso também favorece aglomeração e a falta de controle de distanciamento. Isso faz parte da cultura indígena, essa forma de organização social”, explicou a professora, ao destacar também o contexto histórico e o preconceito ainda sofrido pelos povos indígenas.

Para a Sesai, outro fator levado em consideração é de que os povos aldeados ficam vulneráveis também do ponto de vista geográfico. “Necessário percorrer longas distâncias para acessar cuidados de saúde, podendo levar mais de um dia para chegar a um serviço de atenção especializada à saúde, a depender de sua localização”, destacou a pasta.

Na Bahia, a vacinação contra a Covid-19 foi iniciada na terça-feira (19). Na cerimônia simbólica que deu início à imunização no estado, na basílica das Obras Sociais Irmã Dulce, Deisiane Tuxá foi vacinada enquanto representante dos povos indígenas. Natural de Rodelas, no interior do estado, ela trabalha em Salvador no Distrito Especial Indígena da Bahia, local responsável pela Atenção à Saúde Básica das populações aldeadas indígenas do estado. O distrito em que Deisiane atua é responsável por 135 aldeias.

De acordo com o boletim mais recente da Seretaria da Saúde da Bahia (Sesab), desta sexta-feira (22), 1.849 indígenas testaram positivo para a Covid-19 no estado. No universo dos mais de 550 mil casos da infecção contabilizados pela pasta, o percentual entre esses povos é de 0,33%. Em relação aos profissionais da saúde de etnia indígena o número de casos de Covid é até o momento de 102. 

Bahianoticias

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